ERA UMA VEZ... BRANCA DE NEVE!
Era
uma vez uma rainha que estava esperando o nascimento de seu primeiro filho.
(Adaptado do conto dos Irmãos Grimm)
Certo dia, no mais frio do inverno, quando parecia que o mundo todo se tornara
branco pela neve, ela estava sentada perto de uma janela que tinha uma moldura
de ébano a costurar. Enquanto costurava espetou o dedo com a agulha e três
gotinhas de sangue caíram sobre a neve alvíssima.
O vermelho era tão bonito
sobre o branco que a rainha exclamou: “Gostaria de ter uma filhinha branquinha
como a neve, com a boca vermelha como o sangue e com os cabelos tão negros como
a moldura de ébano da minha janela”.
Pouco tempo depois deu a luz uma menininha
que era branca como a neve, tinha os lábios vermelhos como o sangue e os cabelo
negros como o ébano. Por isso recebeu o nome de Branca de Neve. Mas a rainha morreu
logo após o nascimento da criança.
Poucos
anos depois o rei, cansado de viver sozinho, casou-se novamente. Era uma dama
belíssima, mas, seu coração era duro, era orgulhosa, vaidosa e arrogante. Não
tolerava a ideia que alguém pudesse ser mais bonita do que ela.
Possuía um
espelho mágico e, sempre que ficava diante dele para se admirar, perguntava:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
E
o espelho sempre respondia:
“Não,
minha rainha, sois de todas a mais bela.”
Então
ela sorria feliz, pois sabia que o espelho não podia mentir.
Branca
de Neve estava crescendo e, a cada dia que passava ficava mais e mais formosa.
Assim que se tornou uma jovenzinha ficou mais bonita
que a própria rainha.
Um dia a rainha perguntou ao espelho:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
O
espelho respondeu:
“Ó
minha rainha, sois muito bela ainda. Mas
Branca de Neve é mil vezes mais linda”.
Ao
ouvir estas palavras a rainha começou a tremer, parecia que ia explodir, e seu
rosto ficou verde de inveja. A partir daquele momento passou a odiar Branca de
Neve. Sempre que seus olhos pousavam nela sentia seu coração ficar frio como
uma pedra. A inveja e o orgulho floresceram como pragas em seu coração. Dia ou
noite, ela não tinha mais um momento de paz, vivia para odiar.
Um
dia chamou um caçador e disse:
“Leve a menina para a floresta. Nunca mais quero
vê-la de volta; mate-a e me traga seu fígado e seu coração como prova”.
O
caçador ficou apavorado com esta ordem, conhecia a princesinha desde o
nascimento e, com um grande tormento interior levou a menina para a mata com a
desculpa que iriam passear.
Em dado momento Branca de Neve virou-se de repente
e se deparou com o caçador com uma faca na mão pronto para desferir-lhe um
golpe mortal. Inocente ela começou a chorar e a suplicar: “Misericórdia
caçador, não me mate!”
O
caçador soltou a faca e disse:
“Não posso fazer isso. Fuja Branca de Neve, a rainha
mandou lhe matar, se voltar ao castelo morrerá na certa!”
Branca
de Neve saiu correndo para dentro da densa floresta.
Naquele instante passou
por ali um filhote de javali. O caçador não perdeu tempo, matou-o e retirou em seguida o seu coração e o fígado para levá-los à rainha.
Retornando ao
castelo entregou os órgãos a perversa que exultante de satisfação levou ao
cozinheiro pessoalmente, dando-lhe as instruções de como prepará-los. Depois
comeu até satisfazer-se pensando que estava comendo os restos mortais da
enteada.
Neste ínterim a pobre menina vagava sozinha na vasta floresta. Estava
muito assustada. Começava a escurecer e cada árvore, cada galho parecia tomar
formas fantasmagóricas.
Desesperada pôs-se a correr cada vez mais, embrenhando-se
na mata, passando sobre pedras pontudas e entre espinheiros. De vez em quando
feras passavam por ela, mas não lhe faziam mal. Ela corria apavorada que mal
sentia as pernas.
Ao anoitecer viu ao longe uma luzinha e dirigiu-se a ela. Era uma pequena
cabana e entrou para se abrigar. Nessa casa todas as coisas eram minúsculas,
mas estava tudo tão limpo e bem organizado que era de espantar.
Havia uma
mesinha com sete pratinhos sobre uma toalha muito branca. Sobre cada pratinho
havia uma colher, e do lado sete garfinhos e sete faquinhas, sem esquecer de
sete canequinhas. Do outro lado estavam sete caminhas lado a lado, todas
impecavelmente arrumadas com lençóis brancos como a neve.
Sedenta e com fome
Branca de Neve comeu um pouquinho de cada pratinho e tomou um gole de vinho de
cada canequinha. Extenuada por tantas emoções juntou as caminhas, deitou e
dormiu profundamente.
Já
era noite fechada quando os proprietários da pequena cabana chegaram. Eram sete
anões garimpeiros que passavam o dia nas montanhas escavando a terra em busca
de minérios. Entraram na casa cada um segurando sua lanterninha e pararam
assustados ao verem que as coisas não estavam do jeito que tinham deixado.
O
primeiro anão perguntou: “Quem se sentou na minha cadeirinha?”
O
segundo perguntou: “Quem usou o meu garfinho?”.
O
terceiro perguntou: “Quem comeu o meu bolinho?”.
O
quarto perguntou: “Quem comeu as minhas verdurinhas?”.
O
quinto perguntou: “ Quem comeu do meu pratinho?”
O
sexto perguntou: “Quem cortou com a minha faquinha?”
O
sétimo enfim perguntou: “Quem bebeu da minha canequinha?”.
Os
anõezinhos começaram a olhar em volta. Cada vez mais se deparavam com suas coisas fora do lugar, até que os
olhos do sétimo anão caíram sobre as sete caminhas e viram Branca de Neve
deitada nelas, dormindo um sono profundo.
Começou a gritar chamando os outros, que
prontamente acudiram e ficaram tão assombrados que todos ergueram suas sete
lanterninhas para ver melhor Branca de Neve.
“Meu
Deus, como é linda!”, exclamavam boquiabertos.
“É a mais linda menina que já
vimos!”
Os
anões ficaram tão encantados com a princesinha que resolveram não acordá-la.
Pegaram almofadas e se arrumaram
no tapete como puderam para dormir.
Logo
de manhã Branca de Neve acordou. Quando viu os anõezinhos em volta da cama
olhando para ela, ficou bem assustada, mas eles foram muito amáveis e
perguntaram: “Qual é o seu nome?”
“
Meu nome é Branca de Neve”, ela respondeu.
“Como
você veio parar aqui?”, perguntaram.
Branca
de Neve contou tudo que lhe acontecera. Contou que a madrasta mandou matá-la. Falou que o caçador poupou a sua vida. Contou que saiu correndo pela floresta por
várias horas até chegar à cabana deles.
Os
anões lhe disseram:
“Princesinha, se quiser ficar conosco e ajudar nas tarefas
da casa, mantendo tudo limpo e arrumadinho, pode ficar, e nada lhe faltara”.
“Sim,
quero ficar, é o que eu mais quero no momento.”
Desde
esse dia Branca de Neve passou a cuidar da casa para os anões. De manhã bem
cedo eles saiam para trabalhar. iam para o alto das montanhas, em busca de ouro e prata.
Ao cair da noite voltavam e encontravam um gostoso jantar prontinho à sua
espera.
Como a princesinha passava os dias sozinha os anões recomendavam
seriamente:
“Não abra a porta para ninguém... Não se afaste da cabana. Sua
madrasta é uma perversa bruxa e pode descobrir que não morreu e vir até aqui,
atrás de você!”
A
rainha porém, acreditando que havia comido o fígado e o coração de Branca de
Neve, estava certa que agora era a mulher mais linda do mundo.
Foi até ao
espelho e perguntou:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
O
espelho respondeu:
“És
sempre bela minha rainha... Mas
na colina distante, por sete anões cercada,
Branca
de Neve ainda vive e floresce. E
sua beleza jamais foi superada.”
Ao
ouvir essas palavras primeiramente a rainha ficou abismada, pois sabia que o
espelho era encantado e por isso não podia mentir. Depois quase explodiu de
tanto ódio ao compreender que o caçador a enganara e que Branca de Neve
continuava viva. Não perdeu tempo e, cheia de inveja, pôs-se imediatamente a
maquinar uma maneira de se livrar dela.
Desceu
aos porões do castelo, onde costumava praticar feitiçaria, e utilizando seus
conhecimentos de bruxa ficou irreconhecível, tornando-se semelhante a uma
velha.
Desta forma disfarçada viajou para além das sete colinas até a casa dos
sete anões. Lá chegando fingiu ser uma vendedora e anunciou:
“Belas mercadorias,
preço excelente!”
Ouvindo
isso Branca de Neve olhou pela janela e, vendo a velhinha disse:
“Bom dia,
minha senhora. O que tem aí para vender?”
“Muitas
coisas novas e bonitas”, a bruxa respondeu:
“Os mais finos cordões para o
corpete”, e puxou um cadarço de seda tecido em muitas cores.
“É
só uma inofensiva velhinha”, disse para si mesma.
“Acho que não há mal nenhum em
deixá-la entrar”.
Correndo abriu a porta e comprou o bonito cadarço.
A
bruxa, muito ladina, disse para Branca de Neve:
“Oh, minha filha, você é tão
bonita, mas está tão desarrumada. Sente-se aqui perto de mim e deixe que eu
arrume o cadarço pra você”.
Branca
de Neve, completamente inocente sobre as verdadeiras intenções da bruxa,
colocou-se diante da velha e deixou que ela arrumasse seu cadarço de seda.
A
perversa apertou o cadarço tanto e tão depressa que Branca de Neve ficou sem
fôlego e caiu desmaiada como se estivesse morta.
“Gostou,
agora quero só ver quem é afinal a mais bela de todas.”
Já
era de tardinha e não demorou a anoitecer. Logo os anõezinhos
chegaram em casa. Quando entraram deram com sua amada Branca de Neve estendida
no chão e ficaram horrorizados. Ela não se mexia, nem um pouquinho sequer, e
eles acreditavam que estivesse morta. Ergueram-na para colocá-la sobre a cama e
aí perceberam o cadarço do corpete, fortemente amarrado, e o cortaram com a
tesoura.
A princesinha começou a respirar, e pouco a pouco voltou à vida.
Quando os anões souberam o que tinha acontecido disseram:
“A velha vendedora
era a rainha má disfarçada. Tome mais cuidado e não deixe ninguém entrar, a
menos que estejamos em casa.”
Assim
que chegou no castelo a primeira coisa que a rainha fez foi dirigir-se ao
espelho mágico e perguntar:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
O
espelho respondeu como sempre fazia:
“És
sempre bela, minha rainha... Mas
na colina distante, por sete anões cercada,
Branca
de Neve ainda vive e floresce. E
sua beleza jamais foi superada.”
Ao
ouvir as palavras do espelho a rainha tornou-se possessa de raiva, tremia e
vociferava:
“Branca de Neve tem que morrer, mesmo que isso custe minha própria
vida!”
Dirigiu-se
ao calabouço do castelo, onde guardava seus apetrechos de magia negra e só ela
tinha acesso, e imediatamente começou a elaborar uma maçã envenenada, e
enquanto assim fazia, seu semblante expunha toda malignidade de seu perverso
coração.
A aparência da fruta encantada era maravilhosa – branca com as faces
vermelhas – num mórbido paralelismo com sua vítima. Qualquer um desejaria comer
essa maçã, mas, bastaria uma só mordida para levar à morte.
Assim
que terminou de confeccionar a maçã enfeitiçada, usando de artimanhas transmutou-se desta vez na forma de uma velha camponesa e partiu para além das sete
colinas até a casa das sete anões.
A
bruxa bateu à porta e Branca de Neve olhou pela janela e disse:
”Fale o que a
senhora deseja aí fora, pois estou proibida de deixar entrar estranhos”
“Não
faz mal”, respondeu a camponesa.
“Posso lhe mostrar a minha mercadoria daqui
mesmo. Prove essa linda maçã, presente meu”.
“Não”,
respondeu Branca de Neve,
"Estou proibida de aceitar seja o que for de
estranhos”.
“Não
tenha medo, não está envenenada”, disse a velha,
“Vou provar pra você. Vou
partir a maçã ao meio, você come uma metade e eu como a outra, esta bem assim?”
O
veneno da maçã estava todinho concentrado na sua casca, não atingia a parte
interna.
Branca de Neve estava com a boca aguada de tanto desejo de comer a
maçã e, quando viu a camponesa morder seu pedaço não resistiu mais. Estendeu a
mão e pegou a outra metade. Assim que mordeu, caiu morta no chão.
A rainha
triunfante olhou-a caída no chão, explodiu numa sonora gargalhada e falou
ironizando a falecida rainha, mãe da princesinha:
“Branca como neve, boca
vermelha como o sangue, cabelos negros como o ébano, eu venci! Desta vez
aqueles horríveis anões não conseguirão trazê-la de volta à vida!”
Chegando
ao castelo dirigiu-se de imediato ao espelho mágico e perguntou:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
E
desta vez o espelho respondeu:
“Sois
vós, minha rainha, do reino a mais bela.”
E
a invejosa rainha mal podia se conter de tanta felicidade.
Ao
cair da noite os anões voltaram pra casa e encontraram Branca de Neve caída no
chão. Não tinha respiração e nenhum movimento. Ergueram-na e procuraram algo em
volta que pudesse ser venenoso. Procuraram em seus cabelos, seu bolso, mas
nada.
Ficaram completamente desalentados. A princesinha estava morta e nada
mais poderia ser feito para trazê-la de volta.
Construíram um caixão de vidro,
com inscrições em ouro do seu nome e com dizeres de que ali estava a filha de um
rei. Colocaram Branca de Neve dentro do caixão de vidro. Sentaram em torno
dela e a velaram.
Por três dias assim ficaram, chorando na mais profunda
tristeza. Levaram o caixão até o topo de uma alta montanha e um deles ficava montando guarda. Os animais também foram chorar por Branca de Neve,
desde as aves até as feras.
Branca
de Neve permaneceu no caixão e muito tempo se passou. Entretanto seu corpo não
se decompunha. Dava a impressão de estar dormindo. Suas feições continuavam
as mesmas, branca como a neve, boca vermelha como o sangue e cabelos negros
como o ébano.
Certo
dia um belo e valente príncipe, filho de um poderoso rei atravessava a floresta
quando chegou à casa dos sete anões. Queria pedir hospedagem por uma noite.
Quando subiu no alto da montanha, atrás dos donos da cabana, se deparou com a linda Branca de Neve deitada dentro de um caixão de vidro rodeada pelos anões.
Leu
os dizeres em ouro e viu tratar-se de uma princesa. Ficou tão encantado com a beleza da princesinha que disse aos anões:
“Deixai-me levar
esse caixão. Eu pagarei o que pedirem”.
Os
anões responderam: “Não o venderíamos nem por todo ouro do mundo!”
O
príncipe então respondeu: “Deem-me então como presente, pois depois que a vi
não posso mais viver sem ela. Vou honrá-la e tratá-la como se fosse minha
amada.”
Os
anões, comovidos com o profundo sentimento do príncipe, se apiedaram dele e lhe
entregaram o caixão. O príncipe mandou vir seus criados a quem ordenou que
pusessem o ataúde sobre os ombros e o transportassem.
Mas aconteceu que o peso
era grande e eles tropeçaram, dando um tranco no caixão. Com o solavanco o
pedaço de maçã envenenada que estava preso na garganta de Branca de Neve se soltou,
e ela prontamente voltou à vida e exclamou assustada:
“O que aconteceu, onde
estou?”
O
príncipe com radiante alegria diante do que acontecera, disse:
‘Você vai ficar
comigo!”
E contou-lhe o que acontecera.
“Eu te amo mais que tudo no mundo”,
ele disse.
“Venha comigo para o castelo do meu pai, seja minha noiva, case
comigo!”
Branca de Neve sentiu um grande amor pelo príncipe, segundo suas
palavras “maior que o mundo”, e partiu com ele.
Em breve as núpcias foram
celebradas com enorme esplendor e com a presença dos queridos anõezinhos.
A
perversa madrasta também foi convidada para a festa de casamento da princesa.
Vestiu suas mais belas roupas, pois o que mais gostava era expor sua beleza,
postou-se diante do espelho e perguntou:
“Espelho,
espelho meu... Existe
outra mulher mais bela do que eu?”
O
espelho respondeu:
Ó
minha rainha, sois muito bela ainda. Mas
a jovem rainha é mil vezes mais linda.”
A
malvada mulher ficou de tal forma possessa que jogou tudo que encontrou pela
frente sobre o espelho, que se espatifou em mil pedaços, libertando o gênio
escravo do espelho, que partiu aliviado por não precisar mais servir a uma
rainha tão pérfida.
Foi
à festa de casamento com as piores intenções. Quando
entrou no castelo, Branca de Neve a reconheceu no mesmo instante.
A bruxa, ao
ver que se tratava da princesinha ficou tão aterrorizada que saiu correndo pela
porta, com medo de ser punida pelos seus terríveis atos. Porém, antes que desse
muitos passos um raio caiu do céu e a fulminou, deixando-a completamente
esturricada e morta no chão.
O
rei, pai de Branca de Neve, que há muitos anos vivia preso e imóvel à uma cama,
vítima das feitiçarias da rainha, se libertou recobrando a consciência e a
saúde.
Ele e o castelo inteiro festejaram o fim da rainha, que a todos
perseguia.
O rei foi ao encontro de sua amada filha. Agora, todos em plena alegria festejaram por sete dias. Afinal precisavam comemorar a paz que iniciava em sua vida.
Branca de Neve e o príncipe viveram felizes para sempre.
O rei foi ao encontro de sua amada filha. Agora, todos em plena alegria festejaram por sete dias. Afinal precisavam comemorar a paz que iniciava em sua vida.
Branca de Neve e o príncipe viveram felizes para sempre.